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“Queriam formar
uma companhia
de comandos
para acabar
com a guerra”

A juventude é um lugar eterno, cristalizado no tempo — o “meu tempo”. No “meu tempo”, somos quase sempre mais bonitos, mais tenazes, mais fogosos, quase nunca temos medo, e é raro pensarmos que a vida tem prazo para acabar. Ao recordar o “seu tempo”, é inevitável para Galé Jaló falar dos anos que passou nos comandos. É como se os seus olhos disparassem flashes e o sorriso, que começa tímido, perdesse o controle: “Não me esqueço, até hoje, de como se apresentava a arma.

Os comandos não eram uma tropa normal, éramos especiais, os homens mais importantes da Guiné. Ganhávamos mais do que a tropa comum, tínhamos dinheiro e prestígio. As mulheres diziam: ‘Aqui chegou o macho.’”

Da guerra, muitos homens voltavam aos bocados, ou nem sequer voltavam, mas sobre isso o soldado da 3.ª Companhia de Comandos Africanos da Guiné não entra em detalhes: “O treino dos comandos era duro mas, depois de três ou quatro dias, acostumávamo-nos e deixávamos de ter medo. Não queríamos que os colegas dissessem ‘este é cobarde’. Ah, naquele tempo, eu tinha boa forma, veja só a caderneta…” A juventude é também um lugar absolutista: apaga o que não quer recordar e veda ao presente e ao futuro qualquer possibilidade de a igualarem em esplendor.

Galé Jaló trabalhava na construção da Ponte do Saltinho, uma das grandes obras públicas da administração portuguesa na Guiné, quando um sargento o chamou e lhe disse: “Tens de dar o nome para os comandos ou para os fuzileiros, senão vais para a ilha de Caravela [ilha do arquipélago dos Bijagós, onde ficavam reclusos os que não acatavam as ordens do Estado]”.

Decorria o ano de 1972 e vivia-se o último fôlego da guerra, Galé foi receber a farda a Bissau e seguiu para o quartel de Fá Mandinga, no Leste da Guiné. Aqui, os que já faziam parte das Forças Armadas Portuguesas (FAP) juntaram-se a novos recrutas e começaram a ser treinados para integrar as três companhias do Batalhão de Comandos da Guiné — todos escolhidos a dedo, a mando do governador António de Spínola.

Fonte:

 

“Os comandos da Guiné”, Mama Sume — Revista da Associação de Comandos, n.º 75, Raul Folques