Para veres esta reportagem,
gira o telemóvel.

To see this report, hold
your phone in landscape.

O Facebook e o Instagram bloqueiam o formato de visualização desta reportagem.

Acede a www.divergente.pt através da barra de navegação do teu navegador (Chrome, Safari, Firefox, etc.) para poderes ler, ver e ouvir.

You cannot view this report through Facebook and Instagram.

Go directly to the website by typing the address www.divergente.pt directly into your browser (Chrome, Safari, Firefox, etc.) to get the full experience.

Um trabalho DIVERGENTE

A work by DIVERGENTE

“Isto não
é um nome
que se
entenda”

João Séco Mané só soube que se chamava João no dia em que entrou para a escola. Estava a mãe ainda grávida quando recebeu o aviso da administração colonial: “Logo que a criança nasça, o seu marido tem de vir cá fazer o registo.”

Fonte:

 

“Sarmento Rodrigues, a Guiné e o luso-tropicalismo”, António E. Duarte Silva

 

 

 

Aconteceu a uma quarta-feira, dia 29 de Janeiro de 1948 em Nova Lamego (hoje cidade de Gabu), no Leste da Guiné. Por essa altura, sopravam os primeiros ventos do desenvolvimento português na então colónia: construíam-se estradas, erguiam-se pontes, e começava a falar-se de saúde, educação e saneamento.

Cumprindo as ordens que lhe tinham sido dadas, Bolom Mané dirigiu-se ao registo civil para anunciar o nascimento do filho. Foi recebido por um funcionário público que, já habituado àquelas lides, começou a reclamar — “isto não é um nome que se entenda” —, e lhe arranjou logo uma alternativa. João foi o nome que lhe calhou em sorte; em casa nunca deixou de ser, apenas, Séco Mané. Esta foi a primeira de muitas regras a que teria de se vergar para ser português.

João Séco Mané

Furriel

 

1.ª Companhia

de Comandos Africanos da Guiné

“Foi o meu pai quem me contou esta história. Disse-me que isto do registo começou praticamente no tempo em que eu nasci. Quase todas as pessoas da minha geração têm nomes portugueses. Metiam-nos na cabeça que tínhamos de mudar de nome, eles é que escolhiam, era tudo obrigação.”

Séco Mané tinha 15 anos quando o Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) atacou o quartel de Tite, em Janeiro de 1963, no episódio que ficaria conhecido nos livros de História como o início da guerra na Guiné. O conflito a que de um lado se chamou “Guerra de Libertação”, e do outro “Guerra Colonial”, talhou-lhe a vida ao meio. O pai foi preso em Setembro de 1965 pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) — acusado de ser conivente com os “terroristas”, permitindo que fossem buscar comida à horta da família; levaram-no para a ilha de Galinhas, uma prisão a céu aberto, onde o torturaram e espancaram. A mãe, com quatro filhos pela mão e um ainda no ventre, foi levada para o mato pelos guerrilheiros do PAIGC. Uns de um lado, outros de outro, todos reféns à força. No meio, obrigados a ir para a tropa, ficaram Séco Mané e o irmão Boquindi Mané que, feito militar, passou a ter Joaquim como nome próprio. Nessa altura, nenhum dos dois podia ainda imaginar que passariam dez anos sem ver a mãe e os irmãos.